AsBrownies

Sonhos à solta

segunda-feira, dezembro 13, 2010

Vidas em Suspenso

Não sei como conseguem alguns adiar os sonhos.

Não aqueles grandes sonhos inatingíveis, que não dependem (em grande parte) de nós, como ganhar o euromilhões, mas os outros, aqueles que resultam do nosso fazer ou não fazer e que tornam luminosos ou cinzentos os dias.

Como conseguem colocar-se dia após dia no martírio da grande cidade e ansiar pela reforma para ir para a terrinha, ou ir diariamente para um emprego que abominam, não procurando arduamente alternativa. Ou viver um amor infeliz.

Como conseguem e não se questionam, não se propõem e não começam a mudar de direcção.

Eu não conseguiria. Talvez por não acreditar na vida eterna… o que há a viver é aqui e agora… a cada dia, a começar hoje… ontem.

Bom, não sei, se calhar conseguia, como conseguem eles. Conseguia, mas ia mirrar a cada minuto. Mirram eles também?

Fazem-me falta os alicates. Fazem-me falta as linhas, as pedras, os remates. Faz-me falta toda aquela parafernália.

Sinto falta de mexer com as cores, as texturas, conjugar, descobrir, criar e ver passar na rua.

Sinto falta de mexer nos pincéis, nas tintas, fazer coisas do arco da velha que não se parecem com nada.

Faz-me falta mexer na terra. Ver os ramos secos, defuntos confirmados, a encher-se de nichos de pequenas folhas cheias de vida, de garra, de vontade de viver. Descobrir que do que parecia apenas terra infértil brotam bolbos a prometer flores que já nem me recordava ali terem existido. Tudo resultado apenas da terra, da água e do sol – pura magia!

Sinto-me mirrar. É difícil esperar, é tempo inútil, pesado, desperdício. Vida em suspenso.

Conheço uma pessoa que quer, um dia, abandonar o seu emprego na grande cidade e tornar-se guarda florestal no meio da montanha (eles já não existem, pois não?). Outra, que quer deixar os papéis e os fait-divers e passar a ser veterinária. Outra ainda que quer um dia comprar todas as casas velhas e abandonadas que por aí há e recuperá-las e torná-las úteis (vamos ser sócias).

Eu…bom, eu ainda vou ser carpinteira!